quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Fui achar que eu era bom.

Fui achar que eu era bom
Fiz das tuas palavras travesseiro
Deixei-me levar a cabeça pelo carrasco do teu coração
Deixei-me esvair por completo em teu cheiro

Ah! Teu cheiro, teu sorriso, teu desprezo...
Tudo fere-me como o desespero:
Estou iludido, caído, preso,
Mas esses teus vastos olhos, que tanto quero

A perseguir-me em meu desalento,
A difundir-me na paisagem natural,
Desperta a realidade e o movimento,

Desperta-me da inércia, do coloquial,
Esses olhos fingem tão bem que pertencem à mim e ao momento
Que os meus, caem, cansados, indispostos, por final.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O homem.

Somos feitos de três coisas.
Três coisas apenas:
Lembrança
Momento
Esperança.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A pipa do(i)s mundos.

Uma criança e um adulto.

Feliz da vida a criança empina seu papagaio
Maldosamente o adulto empina seu orgulho

Despreocupada, se deixa levar além pela pipa desvairada.
Se dá ao luxo de prender-se ao emprego enquanto a alma é desvairada

Lança o olhar ao céu para aquele frágil, magro pedaço de papel vê ali o pássaro da esperança.
Presunçoso nas palavras, emancipa qualquer chance de sensibilidade que a vida lhe oferece.

Triste, desolada, arrasada e destruída fica a criança quando o fio do sonho se rompe e deixa, num urro cruel do vento, o papagaio escapar-lhe a mão.
Cansado desamparado aflito caminha quando vê um papagaio no chão, abre um sorriso pequeninho e as portas do coração.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Rompe a tarde num sonho.

Da janela eu vejo a copa das árvores
Vejo um céu alaranjado e límpido;
Pássaros gritando, viajando pelos ares
Ah! Minha janela do infinito.

Um grito rompe a melodia dos bichinhos aéreos,
O mito surge lá nos limítrofes celestiais
Sim, clama a mim a voz do mistério
E ele, o sonho, ousa invadir-me e tirar-me a paz

Rastejando sobre o lodo da indiferença; cruzando o limbo da ignorância
Chegas a mim pelos ventos frios/oblíquos de uma tarde mundana.
Tu, proveniente de origem obsoleta, remete-me a infância.

Inocência, sinceridade, malícia, fragilidade
Era assim meu sonho, mas delirava frente a realidade.

Me engana, me embala, me vista de imaginação
Faz assim da vida uma boa tarde de... inverno.
(não, verão não!)

sábado, 25 de junho de 2011

Ensaio sobre a nudez.

Naquela manhã, todos foram surpreendidos por um súbito desejo: ficar nu. Das camadas mais inferiores até o topo da pirâmide social o desejo de despir-se aflorou. Era um sentimento que parecia normal, assim como outrora parecia-se normal vestir-se, agora parecia normal expor amplamente o corpo.
Os primeiros a sair na rua, surpreenderam-se ao ver outros que passavam pelo mesmo, mas o que realmente era estranho: ninguém, em nenhuma hora, demonstrou vergonha ou tesão, ou desejos incontinentes. Assim, saiam todos de suas casas com largos sorrisos no rosto; comentavam uns com os outros sobre a causa, era uma divertida cena: não havia barreiras nos relacionamentos; todos falavam de como se sentiam bem, de como era confortável sentir o vento beijar suas vergonhas. Questionavam-se como até hoje não haviam experimentado essa libertação. Nos ônibus, mesmo os cheios, parecia que todos eram velhos amigos, todos mostrando o que realmente eram. Uma grossa barreira caía junto com aquelas roupas; começavam a surgir pessoas, pessoas em mesma situação preocupadas em desfrutar a nudez.
Nos jornais, o surto não foi comentado. Não era um problema já que todos acostumaram-se. A única coisa que foi comentada: o déficit na indústria têxtil. Empresários se manifestavam nus. Num jornal de grande circulação, a principal notícia do caderno de economia: “Nudez arrasa indústria têxtil”. Alguns, que se apegaram ao naturalismo, protestavam colocando fogo em grandes lojas de grife, mas não foi o suficiente para instaurar-se o caos.
O dia prosseguiu. A felicidade de estar à vontade consigo mesmo contagiava a todos. O fim do dia foi como uma sexta, ou um feriado: todos reunidos comendo, dançando, divertindo-se na piscina, no cinema, no teatro, na balada, porém, nus. Alguns foram dormir espatifados e arreganhados na cama. A noite não foi silenciosa, mas não tinha quem reclamasse; ninguém estava insatisfeito; ninguém estava com roupa. Os mais condecorados ainda levavam, ao pé, um sapato ou uma chinela, mas as (antigamente chamadas) vergonhas: sempre livres.
Assim, desfaleceu a noite. Quando às 3h da madrugada, todos foram tomados por um súbito sono (tão surpreendente quanto o desejo de mais cedo) e repousaram. Alguns ainda sorriam. Nas casas de show, até na rua não havia ninguém de olhos abertos. E, completamente, o dia findou.
No primeiro raio de sol, os olhos: abriram-se, as forças: recuperaram-se, olhou-se para o corpo, e envergonhou-se. Não queriam mais estar nus. Nas ruas, corria-se procurando algo para tapar-se; choravam questionando-se porque sentiam vergonha da nudez, por que necessitavam cobrir-se? Os mais bastardos financeiramente corriam para suas fortalezas para empacotar-se; os humildes se indignavam por ter que preocupar-se novamente com as vestimentas.
Todos vestiram suas roupas e voltaram a ignorar uns aos outros, como faziam todos os dias, porém, todos, no fundo, sentiam-se iguais, uns aos outros, pois todos já tinham visto a nudez alheia.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Lembranças.


Rindo das coisas: assim passamos alguns anos. E, juntos, descobrimos uma das melhores fases que se tem pra viver. Sei lá... é a parte da minha vida que mais me traz boas lembranças. Boa parte do que construí de caráter e outras coisas mais foram compartilhadas com vocês. Eu vivi uma ótima época, com bons amigos. Isso conta definitivamente na minha vida. Pensar em coisas como "B³O (com, bonito e barato oin), Pedrinho, Samantha Jamanta, batucada do Zé, Otacila, venda de cestão, etc.. coisas tão únicas, nunca vou encontrar isso de novo, nunca vou reviver. Só me resta pensar que aproveitamos bem e o que construimos adormecerá, não morrerá.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Injustas Saudades.

Eis a saudade. Já me andou a mente... já me proporcionou inspirações mil... já me rendeu a escrita de um sofredor, nunca muito distante dessas bandas de cá. Talvez, a familiarização sufoque a surpresa ou qualquer tom de sentimento renovado que tento exprimir nesse texto, mas em minha mente há um sentimento forte, latejante que me deflagra sem a mínima chance de defesa, e me maltrata e, superando minhas expectativas, não vai embora depois. Sobreviver é mais difícil a cada dia. Pergunto-me qual seria o objetivo maior da saudade. Ela se manifesta na ausência, justo quando não posso combatê-la e ao mesmo tempo ela é a ausência , porém ausência de valor, como se faltasse órgão ao homem, órgão vital, porém que permite sobrevivência em falta. Os que ficam não exercem mesma função com mesmo desempenho. Nunca sou completo nas minhas tentativas de aproximar saudade de algo que se possa ler. Não consigo casar essas minhas dores proporcionadas pelo não estar, não ter, não conter, não tocar, não ser, não completar, não conversar, não realizar com o real. É uma inspiração venenosa.